Com a proibição de fumar em espaços fechados, grupos de trabalhadores a fumar à entrada de escritórios ou restaurantes tornaram-se paisagem em Nova Iorque, e, com as últimas restrições, nasceram ajuntamentos semelhantes em parques e praças.
«As pessoas estão a fumar e depois a entrar como se estivessem a entrar num edifício!», queixava-se Ayanna, funcionária do "Zoo" do Central Parque, na terça-feira, segundo dia de vigor da nova lei que proíbe o puxar do cigarro em parques da cidade, mas também nas praias e até em praças, caso de Times Square.
Tal como o reformado Dennis Blunt, que soube pela Lusa da entrada em vigor da nova lei, que saudou, Ayanna, 18 anos, defende a lei desde a aprovação pelo Conselho Municipal de Nova Iorque, mas não sente mudanças.
«Não há melhor ambiente porque eles fumam mesmo antes de entrar, portanto, ainda inalo o fumo», lamentava a jovem, que apoia a lei: «Quem me dera que deixassem de vender tabaco. Nenhumas drogas, nenhum tabaco... um mundo perfeito!».
Em Central Park já eram bem visíveis na segunda-feira os sinais a proibir o fumo, tal como em Times Square.
Ainda assim, foi fácil identificar prevaricadores. Dois jovens turistas franceses observados pela Lusa disseram desconhecer a nova lei.
Mais do que com fiscalização, a câmara de Nova Iorque conta com a pressão - e mesmo a denúncia - dos não-fumadores para assegurar o cumprimento.
Muitos fumadores mostram-se moderados e compreensivos em relação à lei, mas temem que seja um passo para novas restrições ao cigarro, numa cidade onde um maço custa cerca de 11 dólares (cerca de 8 euros).
«A questão é o que vem a seguir. Para quem quer fumar ou beber, o que quer que seja.(...) Uma pessoa deve poder fazer o que quer», afirma o jovem "chef" Tom, enquanto fuma à porta do restaurante.
À porta do armazém onde trabalha, John Papas goza da pausa para o cigarro, enquanto diz que a lei é «uma boa ideia» e, pessoalmente, um incentivo para voltar a deixar de fumar.
«Isto não faz bem à saúde. Tenho de cortar, tenho de parar. Estou a planear. No final do mês vou tentar deixar», disse.
Esta é já considerada a maior medida anti-tabaco desde que, em 2002, o mayor Michael Bloomberg proibiu o fumo em restaurantes e bares e gerou forte debate dentro da câmara, com alguns membros a defenderem que se está a ir longe de mais, interferindo com as liberdades individuais dos fumadores.
Estes foram a partir de então forçados a fumar à porta, enfrentando neve e temperaturas até 10 graus negativos no Inverno, nas suas caminhadas ou nos bancos de jardim.
A aplicação da lei é vigiada pelo Departamento de Parques e Recreação da cidade, e as multas poderão ascender a 50 dólares.
Mas, segundo um guarda de Central Park, que preferiu não se identificar, não foram ainda passadas multas, mas apenas dados avisos a incumpridores.
A câmara espera que a pressão dos não-fumadores torne desnecessária uma «caça à multa», e alguns grupos de fumadores estão a apelar à desobediência e à organização de «smoke-ins», concentrações públicas de fumadores.
Para sábado, o principal grupo de «direitos dos fumadores» marcou uma concentração na praia Brighton Beach.
«Quando uma lei é tão errada, só pode haver um último recurso para levar à mudança: a desobediência civil», lê-se na convocatória aos fumadores.